Texto 1
Podemos primeiramente distinguir dois grandes sentidos da palavra liberdade.
Quando tratamos das relações entre “democracia e liberdade”, ou quando nos perguntamos se em tal país se
é livre, ou quando invocamos as liberdades políticas, as liberdades fundamentais, ou ainda quando dizemos de um
homem que ele é livre (por oposição a um escravo ou a um preso), referimo-nos ao que se pode chamar liberdade
5 de direito, isto é, em linhas gerais, a ausência de coerções externas — as interdições e as obrigações — nascidas do
Estado, da coletividade ou da sociedade. [..]
Há um segundo sentido, que se pode chamar liberdade de fato, por oposição à de direito: não se trata mais de
perguntar “é permitido fazer (dizer, pensar)?”, mas “é possível fazer (pensar querer...)2”. Não nos referimos mais à
ausência de coerções extrinsecas (as leis civis, as obrigações sociais, as regras coletivas, as interdições...), mas in-
40. trínsecas — aquelas que concemem ao próprio sujeito. [..]
Com efeito, não basta, por exemplo, que eu viva num país onde há liberdade de viajar ao exterior para poder
fazê-lo, mesmo se eu quiser. Posso ser impedido por minha situação social ou simplesmente por meus recursos finan-
ceiros: passamos aqui do problema formal da liberdade política (a questão do regime) ao problema da justiça econô-
mica (o sistema social), e desta não depende mais apenas a questão da liberdade “formal” (temos o direito de fazer?),
15 e sim a questão da liberdade “material” (temos o meio de fazer?). Pode haver também outros obstáculos para exercer
um direito política e juridicamente reconhecido; posso, por exemplo, ser deficiente físico, estar doente etc. Seja como
for, a caracteristica mais geral dessa liberdade como “capacidade de fazer o que se quer” é ser gradual — ao contrário
da precedente que existe ou não existe — e proporcional aos meios de que dispõe o sujeito — de qualquer ordem que
sejam: meios econômicos, físicos, culturais etc. Quanto maiores os meios (riqueza, cultura, saúde, força etc.), mais se
20 pode fazer o que se quer, e portanto se é mais, nesse sentido.
Texto adaptado de WOLFF, Francis. A invenção materialista da liberdade. In: NOVAES, Adauto (org.). O avesso da liberdade.
“São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 16-17
a) O Texto 1 reporta-se a dois conceitos distintos de liberdade. Identifique-os e, usando suas próprias palavras, explique a
diferença que existe entre eles.
b) Sem que haja alteração de sentido, reescreva cada trecho abaixo, observando o início proposto a seguir e fazendo as
modificações necessárias.
i. Nao basta que eu viva num pais onde ha liberdade de viajar ao exterior para poder fazê-lo, mesmo se eu quiser.
Não bastava
ii. Posso ser impedido de viajar ao exterior por minha situação social
Minha situação social